Polin Moreira, estudante de Artes Visuais da UFSM, afirmou que o debate sobre o papel da mídia na criminalização ser realizado exatamente na Concha Acústica foi simbólico, pois o local tem diversos pichos e manifestações. Quando indagado por um estudante de comunicação se o picho não era vandalismo, Polin de forma firme argumentou que se todos comessem três vezes ao dia, estudassem em escolas boas e a sociedade não enfrentasse problemas estruturais, ele poderia considerar o picho como vandalismo. O estudante de Artes Visuais considera a pichação um ato de expressão. Antes de abrir para a intervenção da plateia, Nathália Drey Costa, jornalista sindical, apontou questões sobre a cobertura da Marcha das Vadias em Santa Maria, ato que também ocorreu na Concha Acústica. Panka, como também é conhecida, lembrou que um jornal da cidade fez a cobertura da marcha, mas embaixo da matéria trouxe dicas de como a mulher deveria se vestir. A jornalista, que se formou pela UFSM e hoje atua em Caxias do Sul e na Revista O Viés, defende que os comunicadores devem ter consciência e posicionamento na hora de realizar matérias e peças publicitárias, pois a profissão lida com o imaginário das pessoas. Questões como cotas sociais, racismo e pichação foram aprofundados após a explanação dos convidados. A atividade de encerramento reuniu diversas pessoas, como estudantes, pichadores, representantes do Movimento Nacional de Luta pela Moradia (MNLM) e transeuntes, especialmente jovens, que perceberam a movimentação incomum no Parque Itaimbé e se aproximaram. Ao fim do debate, um jovem levantou-se para falar. Preocupado se estaria falando muito baixo, ele perguntou se todos o estavam ouvindo. Estamos em uma concha acústica, disse a sorridente Maria Rita. Todos riram e continuaram a conversa. texto: Júlia Schnorr fotografias da atividade na Concha Acústica: Júlia Schnorr fotografia da conversa sobre Cotas na Praça Saldanha Marinho: Liana Collse todos comessem três vezes ao dia, estudassem em escolas boas e a sociedade não enfrentasse problemas estruturais, eu poderia considerar vandalismo
Você se vê na TV?
No encerramento da 37ª Semana de Comunicação Social (Secom) organizada pelo Diretório Acadêmico Mário Quintana, três debatedores apresentaram propostas de discussões sobre a cobertura midiática de movimentos sociais, especialmente sobre negros, mulheres e o picho urbano. O debate ”Você se vê na TV? Qual o papel da mídia na criminalização dos movimentos sociais e na elitização da cultura?”ocorreu na sexta-feira, dia 26 de outubro, na Concha Acústica.
A Concha Acústica é um local representativo para a cena cultural santa-mariense que ficou famoso em meados de 1980, quando bandas locais, como Nocet e Fúria, apresentavam-se corriqueiramente para centenas de pessoas. No entanto, a Concha Acústica enfrentou anos de descaso e abandono. A atual gestão municipal realizou uma pintura geral em setembro de 2011, mas esse foi um dos raros investimentos no local. As demais intervenções, como a Marcha da Maconha, as apresentações de diversas bandas e o debate realizado pelo Secom, que são atividades que dinamizam e agregam à sociabilização do Parque Itaimbé, foram ações promovidas por entidades independentes ao poder público.
Na atividade de encerramento, a alfabetizadora Maria Rita Py Dutra abriu o debate da tarde falando sobre a visibilidade do negro na televisão brasileira. A debatedora apresentou um panorama sobre a presença do negro na história da telenovela no país, que começou a ser percebida em meados de 1980. Antes disso, explicou Maria Rita, eram os atores brancos que se pintavam para representar papéis de negros. A professora enfatiza que o contexto influenciou, pois era a década em que se comemorava o centenário da abolição da escravatura, uma época de debates sobre cidadania e raça.
No início do semestre, Santa Maria protagonizou uma manifestação contra as cotas raciais e sociais. O assunto, que momentaneamente criou um antagonismo entre futuros cotistas e estudantes de escolas privadas, provocou um debate público na Praça Saldanha Marinho após a manifestação. Maria Rita comentou sobre a Lei de Cotas Sociais recentemente sancionada pela presidente Dilma Roussef. A lei destina 50% das vagas em universidades federais e escolas técnicas federais a estudantes que cursaram todo o ensino médio em colégios públicos sem bolsa, total ou parcial. A professora afirmou que a sociedade brasileira precisa de políticas públicas para a formação de profissionais negros, como técnicos e professores.
Como resposta à manifestação contra as cotas realizada em Santa Maria, a militante do movimento negro afirmou que os cotistas não são ameaça, pois ”vai levar muito tempo para que o povo negro termine o Ensino Médio.” Para ela, a educação ainda não é prioridade para a maioria das famílias pobres e de origem negra e, além disso, a realidade na periferia ainda é a do trabalho em setores médios, quando não se tem a necessidade de cursar o Ensino Superior. Maria Rita citou o tráfico de drogas que alicia adolescentes para o crime e afasta a educação do futuro de muitos jovens.
Precisamos de uma II Conferência Nacional de Comunicação
Parabéns minha prima Júlia Schnorr. Tanto o texto como as fotos foram um trabalho teu muito bem feito. Gostei. Estás bem na tua área de estudos! Parabéns! Danila Berlitz